FAO/UNESCO Balanço Hídrico da África

Exercício 5: Modelação do Escoamento Subterrâneo Utilizando Arcview

Preparado por:David R. Maidment e Seann M. Reed

Traduzido por: Nabil J. Eid


Center for Research in Water Resources
University of Texas at Austin
Novembro 1996


Conteúdo


Objetivos do Exercício

Obter melhor compreensão da hidrologia subterrânea, por meio da visualização da magnitude, direção do fluxo, e das mudanças nas alturas piezométricas, em condição de fluxo não-permanente.

Recursos Computacionais e Dados Necessários

Este exercício requer o SIG Arcview versão 2.1 ou posterior, desenvolvido pela Environmental Systems Research Institute (ESRI). Também serão necessários os projetos em Arcview start.apr e gfmap.apr, os quais contém os scripts que efetuam a modelação do escoamento subterrâneo. Os arquivos necessários para esse exercício já foram carregados nos computadores que vocês estarão utilizando e encontram-se no diretório \gisfiles\ex5af\gfmap.

Pela Internet os arquivos podem ser obtidos em:

Instruções para utilizar o anonymous ftp.

Introdução

Neste exercício serão calculados os fluxos e as cargas piezométricas utilizando-se um modelo de fluxo da água subterrânea que se baseia em mapas, e que aplica, simultâneamente, as equações de Darcy e da continuidade. O programa também proporciona visualização gráfica dos valores calculados, sob a forma de setas que representam a direção e magnitude do fluxo, e de números que representam a carga piezométrica. Os valores calculados e observados podem então ser comparados.

O caso de estudo (Bear, 1979) envolve um aquífero não confinado com 50 km de largura, situado sobre uma capa impermeável à altitude de 0 m, limitada por dois rios paralelos. Na condição inicial os níveis d'água nos dois rios e no aquífero encontram-se à cota 50 m. Uma recarga uniformemente distribuída de 0.5 mm/dia ocorre à superfície. A condutividade hidráulica é de 1m/h.

Modelo Matemático

O fluxo volumétrico num meio poroso pode ser determinado empregando-se a equação de Darcy:
q = -K(dh/dx)   (1)

onde:

q é o fluxo volumétrico [L/T]
h é a carga piezométrica [L]
x é a distância na direção-x [L]
K é a condutividade hidráulica [L/T]

Por unidade de largura o fluxo volumétrico é dado por: (Q) = q*h [L^2/T]. Incorporando a equação de Darcy:

Q = -K(dh/dx) * h   (2)
O balanço de massa para um volume incremental na direção-x leva a:
Q(in) + N*x - Q(out) = (dh/dt)*x   (3)

onde:

Q(in) é o fluxo volumétrico de entrada [L^2/T]
Q(out) é o fluxo volumétrico de saída [L^2/T]
N é a taxa de recarga uniforme [L/T]
x é o incremento linear [L]

Para um volume de controle diferencial tem-se:
d[K*h(dh/dx)]/dx + N = dh/dt   (4)

Estado Permanente

Para o estado permanente (dh/dt=0), a equação (4) pode ser resolvida de modo a se obter uma relação que descreva as elevações das cargas piezométricas ao longo do comprimento do aquífero.

K[h^2-h(0)^2] - N*x[L-x] + K*[x/L][h(0)^2-h(L)^2] = 0   (5)

onde:

h é a cota piezométrica [L]
h(0) é a cota do nível d'água do rio a oeste [L]
h(L) é a cota do nível d'água do rio a leste [L]
x é a distância ao longo do aquífero contada a partir do rio a oeste [L]
L é o comprimento total do aquífero [L]

Diferenciando a equação (5) com respeito a x, e combinando o resultado com a equação (2) obtém-se:

-Q(x) = K(dh/dx) * h = N(L/2-x) - [K/2] L [h(0)^2-h(L)^2]   (6)

na qual um valor positivo de Q indica que o fluxo se dá na direção positiva de x.

A localização do ponto de maior cota do lençol pode ser determinada ao se atribuir a dh/dx o valor zero e resolvendo para x.

x = [L/2] - [K/(2*N*L)] [h(0)^2-h(L)^2]   (7)

Estas equações serão agora utilizadas para predizer a resposta do aquífero.

Empregando a equação (7), calcule os níveis d'água a 15, 25 e 35 km na direção do comprimento do aquífero. Recorde que h(0) = 50 m, h(L) = 50 m, = 1m/h, N = 0.5 mm/dia e =50 km. Note que o nível d'água no aquífero é o mesmo a 15 e a 35 km. Isto se deve a que os dois rios possuem o mesmo nível. Rios com níveis diferentes serão tratados mais adiante.

Empregando a equação (6), calcule Q(x) a 15, 25 e 35 km na direção do comprimento do aquífero. Note que, devido à simetria, os fluxos a 15 e a 35 km possuem a mesma magnitude, porém sentidos opostos. Os fluxos crescem à medida em que há uma aproximação aos rios. Neste caso o aquífero encontra-se a maior cota e tem o comportamento de uma fonte.

Procedimentos

1. Iniciando ArcView e Abrindo o Projeto

Após iniciar ArcView, vá ao menu e selecione File/Open Project e abra o projeto start.apr situado no diretório \gisfiles\ex5af\gfmap. Você deverá indicar esse mesmo diretório como sendo o endereço onde os arquivos necessários se localizam. Após proporcionar essa informação, pressione o botão e selecione o projeto gfmap.apr na janela do Demo Startup.

2. Executando o Script para o Estado Permanente

Na janela correspondente à View Union você visualizará malha de 5x5. Cada quadrado representa uma área de 100 km2, e a malha total representa área de 50 km na direção norte-sul, por 50 km na direção leste-oeste (2500 km2). Neste exemplo os rios localizam-se à esquerda e direita da malha. O projeto foi previamente alimentado com com as condições hidrológicas descritas anteriormente, com o nível d'água dos dois rios situado à cota 50 m.

No menu, selecione GFwModel/GFlowSim. Assegure-se de que os parâmetros na janela Parameters for Gflow sejam iguais aos da figura abaixo, e pressione .

Ajuste o número de iterações para 400 e pressione novamente. Pressione OK para a mensagem que se refere à memória. O script levará alguns minutos para ser executado.

Ao término do processamento, pressione o botão para preparar a figura com os níveis d'água e os fluxos no aquífero no regime permanente. Assegure-se de selecionar a mesma opção apresentada em cada um dos menus abaixo, e pressione nos botões correspondentes a OK.

Pressione o botão do mouse em qualquer local da malha.

Abaixo estão os resultados do modelo.

Os vetores em vermelho representam a magnitude e a direção do fluxo através da fronteira de cada célula. Os números correspondem à cota piezométrica no centro de cada uma das células. Como você pode observar, os níveis d'água calculados com ArcView estão bastante próximos daqueles calculados com as equações (5) e (6).

Feche os projetos sem salvar as alterações efetuadas. Reabra-os seguindo o procedimento descrito anteriormente.

Para modelar a condição em que os rios apresentam diferentes níveis d'água, torna-se necessário alterar as condições de fronteira. Para isto, ative o projeto Gfmap.apr, pressione sobre o ícone Tables, selecione na lista de tabelas Gfmap.lin e pressione sobre o botão Open. Uma vez que a tabela Gfmap.lin se encontre aberta, ative a janela da View Union e ative o tema Gfmap.lin. A continuação, selecione as linhas correspondentes aos rios para os quais você deseja modificar os níveis d'água. Ative novamente a tabela Gfmap.lin e selecione o campo Bhead pressionando sobre seu cabeçalho. Vá a Tables/Start Editing para tornar a tabela editável, e pressione sobre o ícone da calculadora. Você verá uma janela de diálogo que requer a digitação de um valor. Entre com o nível d'água do rio que você selecionou e pressione OK. Você pode efetuar o mesmo procedimento se desejar alterar o nível d'água do outro rio. Após haver alterado os níveis d'água dos rios, execute o script como anteriormente realizado.

3. Executando o Script para a Condição de Rebaixamento Contínuo (Estado Não-Permanente)

Bombear água do aquífero provoca o rebaixamento do nível d'água ao longo do tempo (até que o estado permanente seja atingido). Agora Arcview será empregado para simular o rebaixamento contínuo do aquífero previamente descrito.

Abra o projeto pelo mesmo procedimento descrito anteriormente. É necessário alterar-se a taxa de bombeamento na célula central da malha. Pressione sobre o retângulo azul (para ativar o tema) e sobre o quadrado do ícone (para visualizar o tema) . Em seguida pressione sobre o ícone para ativar o modo de seleção. Selecione a célula central da malha, a qual será destacada com a cor amarela.

Para modificar a condição da área selecionada deve-se editar a tabela de atributos. Pressione sobre o botão . Vá até o menu (de tabelas) e selecione Start Editing.

Faça a taxa de bombeamento igual a 1 m3/h . Selecione o campo Pmp0 pressionando sobre seu cabeçalho e depois sobre o botão . Entre 1.0 para o valor de [Pmp0]= e pressione . A tabela já está atualizada.

Para executar o script vá a GFwModel/GFlowSim. Assegure-se de que os parâmetros na janela Parameters for Gflow sejam iguais aos da figura abaixo e pressione .

Ajuste o número de iterações para 50 e pressione OK para a mensagem que se refere à memória.

A partir desse momento o modelo passa a apresentar, a cada passo de tempo, figura contendo os vetores representativos do fluxo, e os níveis d'água. Observe que o fluxo se dirige à célula central da malha a fim de satisfazer a demanda de bombeamento, enquanto se observa o rebaixamento dos níveis d'água. Versão tabular dos resultados pode ser encontrada na tabela headtb.dbf. Para vê-la, ative a janela do projeto Gfmap.apr, pressione sobre o ícone Tables, selecione headtb.dbf na lista de tabelas, e pressione sobre o botão Open. Nesta tabela o cabeçalho das colunas se refere às células do terreno, com o bombeamento localizado na célula G14.

Após concluir a simulação, feche o projeto e saia de Arcview sem salvar as modificações. Você acabou o exercício.


Apêndice com Notas Técnicas e Definição dos Parâmetros

1. Janela de Diálogo Inicial

A seguir define-se os parâmetros dessa janela:

fluxplot: razão entre a taxa do fluxo subterrâneo e o comprimento da seta na figura. Por omissão o valor é 0.0001. Aumentar esse número torna a seta maior, enquanto que diminuí-lo reduz o comprimento da seta ;

bndfact: este fator ajusta o parâmetro linear Slength no cálculo do fluxo pela fronteira, linear, tendo em vista que as fronteiras não possuem largura, enquanto que as células na malha possuem largura finita. O fator 1.21 foi obtido de modo a ajustar a solução numérica desse exemplo, à solução teórica ;

Sctrl: este é um valor global para o armazenamento específico do aquífero. Este valor é multiplicado por SV (= 0.1), da tabela de atributos de Gfmap.ply, para determinar o armazenamento específico do aquífero não-confinado. Em consequência, nesse caso, o armazenamento específico é = 0.01515 * 0.1 = 0.001515 ;

Yescolor este é um código que determina o que é apresentado na View;

ISSteady sinalizador do processamento considerando fluxo permanente ou não-permanente:

2. Atributos de Gfmap.ply

Os atributos do tema Gfmap.ply são:

KV condutividade hidráulica (m/s);

Head0 cota piezométrica inicial nas células (m);

Rch0 recarga do aquífero em mm/DT, onde DT é o passo temporal de cálculo, igual a 1 dia nesse caso;

Spr0 vazão de alimentação de nascentes (m3/s);

Pmp0 taxa de bombeamento (m3/h);

gbh0 valor genérico da cota piezométrica numa célula de fronteira. Quando seu valor é zero, essa cota pode flutuar em função das condições do fluxo. Quando diferente de zero, a cota nessa célula é mantida fixa no valor especificado;

evt0 taxa de evaporação em mm/DT onde DT é o passo temporal de cálculo (= 1 dia );

Bot cota do fundo do aquífero (m);

Top cota do topo do aquífero (m);

Cnfd sinalizador para aquífero livre ou confinado. Quando Cnfd = 0 o escoamento se dá em aquífero livre e a cota Top não é levada em consideração. Quando Cnfd = 1 o escoamento se dá em aquífero confinado e a cota piezométrica é comparada com a cota Top para verificação do confinamento;

SV valor definido por omissão que é multiplicado por Sctrl para que se obtenha o armazenamento específico;

headn valor da cota piezométrica do aquífero calculada na última iteração do modelo (m);

dvol fluxo de saída resultante do balanço de fluxo pelas quatro fronteiras de cada célula no último passo de tempo (m3/DT, onde DT = 1 dia).

3. Atributos de Gfmap.lin

ldx comprimento de uma dada linha na direção-x;

ldy comprimento de uma dada linha na direção-y;

fcosx coseno do ângulo formado pelo fluxo que atravessa tal linha e o eixo-x;

fcosy coseno do ângulo formado pelo fluxo que atravessa tal linha e o eixo-y;

CCX, CCY coordenadas do ponto central dessa linha;

Slength comprimento a ser considerado quando os fluxos que atravessam tal linha são calculados. Slength = (tamanho da célula) quando a linha é interna e Slength = 0.5 * (tamanho da célula) quando a linha está na fronteira da malha;

isbnd sinalizador de linhas de fronteira:

bndtp é o tipo de fronteira:

xflux, yflux são os componentes do fluxo que atravessa a linha (m3/DT, onde DT = 1 dia).

4. Barra Inferior do Programa

Quando o programa está sendo executado a barra inferior da tela indica o avanço nos cálculos e apresenta alguns indicadores:

T = número de intervalos de tempo (dias);

MCT = maior valor do número de Courant nas células (deve ser menor que 1);

MX/m = maior e menor alteração de cota durante o processamento, em qualquer passo de tempo (m), i.é., 0.66/0 significa que a maior alteração em qualquer passo de tempo foi de 0.66m e que a menor foi 0;

maxhead|minhead = maior e menor cota no centro de qualquer célula da malha (m). Este número é seguido pela maior diferença entre as cotas no passo de tempo anterior e o atual.


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Este material pode ser utilizado para finalidades educacionais, de estudo e pesquisa, mas por favor faça referência aos autores e ao Center for Research in Water Resources, The University of Texas at Austin. Todos os direitos comerciais reservados. Copyright 1997 Center for Research in Water Resources.